quarta-feira, 14 de maio de 2014

A história não contada de como a Sega quase ganhou a Guerra dos Consoles

Artigo original da Revista WIRED - Tradução por Macalango. Revisão por blariss.


Se algumas pequenas coisas tivessem mudado nós estaríamos jogando em um Sega Playstation exatamente agora?

Essa é a visão que Blake Harris tem no seu novo livro “Console Wars: Sega, Nintendo and the Battle That Defined a Generation (“Guerra dos Consoles: Sega, Nintendo e a Batalha que Definiu uma Geração” em tradução livre). Disponível hoje, Console Wars é a narrativa da história do breve período de tempo da produtora Sega quando a mesma estava no topo do mundo. Em 1994, as vendas do console Sega Genesis contavam com 55% do mercado 16-bits, uma enorme virada em relação a Nintendo que era indiscutivelmente a Rainha de Todos os Jogos poucos anos antes.

Esse sucesso, argumenta Harris, pode ser largamente atribuído ao contrato da Sega com o executivo de brinquedos Tom Kalinske, que protagoniza essa história.

Console Wars chegou com muito alarde e já está sendo adaptado em um longa-metragem por Seth Rogen e Evan Goldberg, que escreveram o prefácio da obra. O livro em si já tem um ritmo rápido e qualquer um com interesse na história clássica dos games vai querer ler por sua perspectiva “por trás das câmeras” da Sega, Nintendo e Sony, vista pelos olhos de seus funcionários.
Parece muito como um sucessor espiritual do “Game Over” de 1993, de David Sheff, que é uma narrativa similar da Nintendo. De fato,Console Wars começa quase que exatamente de onde o livro do Sheff parou, com a Nintendo ascendendo e a Sega já lhe alcançando. Como Game Over, o fascínio de Console Wars é que ele nos mostra o que estava atrás das cortinas, dentro das salas de conferência, escritórios e limosines onde o futuro dos videogames foi conspirado, pouco a pouco, às vezes por homens que estavam furiosos e mordendo uns aos outros como se a Sega e a Nintendo fossem crianças num playground. Mesmo os que já conhecem a história dos games vão se sentir surpresos, talvez até mesmo chocados, por algumas das revelações que Harris faz graças a um enorme acesso de informações internas.

Numa visão geral, o plano de Kalinske foi de identificar os pontos fracos da Nintendo e atacá-los sem misericórdia. Sob sua direção a Sega desferiu inteligentes ataques publicitários que fizeram com que jogos brilhantes da Nintendo, como Super Mario World, parecessem lixo. Mesmo que o catálogo de jogos de ambos os consoles tivessem tons similares, a Sega direcionou-se para crianças mais velhas e adolescentes, e por extensão, a Nintendo como console para crianças do jardim de infância. Como a Nintendo se recusou a responder a estes ataques diretos, acabou perdendo.

Kalinske também mirou nas fraquezas da Nintendo na indústria de games em si. Produtores que estavam sob o controle da Nintendo recebiam da Sega a chance de escapar de lá com licenças mais livres. A Sega deu às revistas de videogame todo o acesso (e dinheiro de publicidade) que a Nintendo se recusou a dar.

Mas talvez, Console Wars argumenta, o maior crédito pro Kalinske e o time da Sega deve-se à produção de Sonic the Hedgehog, que lançou o Genesis para a estratosfera. O designer de games Yuji Naka é geralmente creditado por ter sido a força por trás do sucesso do Sonic, mas Harri diz que foi um triunfo maior do marketing do que do design. A arte conceitual do Sonic the Hedgehog, que foi submetido pelo time japonês ao braço americano, foi um personagem que parecia “vilanesco e cruel, com presas pontudas, um colar de espinhos, uma guitarra e uma namorada humana que faria o busto da Barbie parecer achatado”.

Constantemente contra os designers do jogo, a Sega of America lutou pelo Sonic que conhecemos hoje; fofo e amigável, com apenas um toque rebelde.

Além dos bastidores da produção do primeiro Sonic, Console Wars não se aprofunda no processo de criação dos jogos. Nós não veremos muito sobre como os jogos clássicos da Sega foram conceituados, nem sobre o processo de levar alguns jogos aos EUA. Essa é uma história de intriga corporativa e os trabalhos criativos em si são empurrados para segundo plano.



Dito isso, a intriga corporativa é louca o bastante pra carregar a história sozinha. Nós descobrimos que a Sega quase colocou as mãos no PlayStation e até no Nintendo 64. Harris diz que Kalinske estava perto de fechar um acordo com a Sony, que se preparava para entrar no mercado de videogames e tinha sido rejeitada por sua antiga parceira, a Nintendo, que por sua vez teria visto a equipe da Sega se juntar com a Sony para o PlayStation.

Quando isso não deu certo, Kalinske começou a conversar com a Silicon Graphics, que estava com a ideia de fazer uma versão de baixo custo de suas poderosas estações de trabalho 3D que poderiam funcionar como uma espetacular máquina de jogos 64bits. Mas a Sega of Japan — que é tida como a incompreensível e sombria inimiga do Kalinske ao longo da história, constantemente frustrando seus melhores planos — matou a ideia, e a tecnologia foi para a Nintendo ao invés disso. Ambos, PlayStation e Nintendo 64, soterraram em vendas a solução da Sega para a nova geração, o Saturn, e Kalinske demitiu-se logo após seu lançamento.

Embora foque largamente na Sega, Console Wars ocasionalmente se põe dentro do quartel general da Nintendo para certos esboços, entre estes, muito do que se diz a respeito da visceral produção de Donkey Kong Country (nas palavras de Harris, os maiores game designers da Nintendo, incluindo Shigeru Miyamoto riam abertamente na cara do executivo americano que sugeria que um bom jogo de videogame poderia ser feito por um não-japonês).

Console Wars contribui muito bem à bibliografia existente da história da industria de games. Agora que o véu de ferro das relações públicas está começando a cair a partir da época dos jogos 16bits, é empolgante finalmente conseguir, sem censuras ou problemas, meter a mão nessa parte da história que foi há muito tida como um segredo ao olho público. E manda ver no filme, Seth Rogen!

Nota do tradutor:

E vocês, queridos amigos, sabem, ironicamente, que produtora fará o filme?

A Sony Pictures.